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demolidor89

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Anabela Neves é coordenadora do Gabinete Médico-Legal e Forense da Grande Lisboa Norte. Todos os meses passam-lhe pelas mãos dezenas de casos de abuso sexual de crianças e jovens. Explica, revelando detalhes chocantes, o sofrimento dos miúdos, a maioria raparigas, e a atuação dos predadores, quase sempre homens. Começa a conversa com um aviso: se vamos falar disto, só o podemos fazer "de coração bem aberto".

E, conhecendo estas histórias, percebemos porquê. Foi há um ano, eram dez da manhã, a Polícia Judiciária (PJ) é chamada a uma escola de Loures. Passaram sete horas até a comunicação ser feita. Uma pequena de 12 anos, que vivia com a irmã mais velha na época Covid, revela à professora que é abusada pelo cunhado: cópula, coito oral, agressões físicas e psicológicas. A perícia médico-legal confirma, tinha lesões recentes. A mãe é chamada à escola e a irmã e o cunhado também comparecem. O suspeito confessa e, com provas materiais, é preso 12 horas depois da denúncia.

A Polícia Judiciária recebe cerca de 200 denúncias de abusos sexuais de crianças e jovens por mês. Só entre janeiro e setembro deste ano foram 1737. Dos casos apresentados, 76% foram crimes presenciais, 24% online. Foram detidas 153 pessoas, uma média de 17 por mês. Em Portugal, mais de metade dos abusos sexuais são contra crianças e jovens e na Europa uma em cada cinco crianças é vítima de alguma forma de violência ou exploração sexual.

Dia 5 de abril de 2021. Na Penha de França, em Lisboa, uma criança de nove anos diz que é abusada por um vizinho a quem a avó aluga casa. Depois de uma série de ofensas entre proprietária e inquilino a PJ é chamada ao local. O indivíduo é detido. Os crimes são provados, o agressor é julgado e condenado a 25 anos de prisão em cúmulo jurídico (conjunto das penas), oito anos de prisão efetiva e a proibição de contactar com crianças ou vir a trabalhar em profissões relacionadas com crianças. Entre a queixa e a condenação passaram seis meses e meio, graças à rápida atuação da PJ.

A regente da cadeira de Medicina Legal e Ciências Forenses do Mestrado Integrado de Medicina da Nova Medical School revela que em quase 86% dos casos os abusos são cometidos em casa da vítima. O restante divide-se em partes iguais por via pública, casa de amigos e escola.

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