O futebol é um mundo de dinheiros sujos com promiscuidades políticas [com as autarquias] que não se sabe onde começam e onde acabam e que são altamente nocivas para as instituições democráticas." Após 18 meses como directora-adjunta da Polícia Judiciária (Dezembro de 2000 a Agosto de 2002), onde era responsável pela Direcção Central de Investigação da Corrupção e Criminalidade Económica e Financeira, Maria José Morgado denunciava, em entrevista (Público, Setembro de 2002), um mundo que, até à altura, nunca saltara dos murmúrios das tertúlias para o discurso do MP. Naquela altura, quando trocara já o "respirar do cheiro a pólvora" da PJ pelo regresso ao gabinete de procuradora-geral adjunta onde "o papel ainda cheira a papel", acusada de ter "excesso de visibilidade", ainda não existia o processo Apito Dourado, que viria a dirigir - mas, entre os seus casos mais célebres, tinha estado na origem da prisão de Vale e Azevedo. "Não sou sócia de nenhum clube e nem sequer gosto de futebol. O meu desporto favorito é nadar e o meu clube é onde há indícios de crime", tinha afirmado, dois anos antes, quando acusara o ex-presidente benfiquista de "aproveitamento em benefício próprio de uma verba devida ao clube", na transferência de Ovchinnikiv. Esse universo "sofisticado" da corrupção e branqueamento, fuga ao fisco e desvios de fundos, "crimes de gabinete", "economia de mafias", "terrorismo económico" seria registado no livro que escreveu (com o jornalista José Vegar) intitulado O Inimi-go sem Rosto - Fraude e Corrupção em Portugal.